quinta-feira, 4 de abril de 2013

Selos Denteados de 1866

Uma das séries que mais me intriga na filatelia brasileira é a dos numerais (verticais e coloridos) picotados ou denteados. As informações sobre esta emissão são bem restritas e o próprio Catálogo de Selos do Brasil não traz muitas informações (exceto que abundam picotagens falsas) e da importância de se adquirir estes selos com certificado de autenticidade.

One of the most intriguing stamp series in Brazilian philately is 1866 perforated “vertical” and “colored” stamps. Information about this issue is very limited and even RHM Stamp Catalog of Brazil does not bring a lot of information (except that abound false perf.) and the importance of acquiring these stamps with certificate of authenticity.

Como eu acho que a filatelia só vai se desenvolver novamente se as informações forem divulgadas, vou fazer um apanhado do que já consegui levantar sobre esta emissão.

I think philately will only develop again with knowledge spread. Below, a summary of what I have found about this issue.

O contexto histórico: em 1866, duas repartições postais (Rio de Janeiro e Salvador) fizeram, por conta própria, a picotagem de selos das emissões “Verticais” e “Coloridos”, sem o aval da Casa da Moeda, por meio de máquinas de preparar talões, muito provavelmente para facilitar o trabalho dos funcionários. Neste mesmo ano era lançada a série D. Pedro II – Barba Preta, feita pelo American Bank Note, com uma novidade: eram denteados.

Historical context: in 1866, two postal offices (Rio de Janeiro and Salvador) perforated stamps of “vertical” and “colored” series of 1850/61, without permission of “Casa da Moeda do Brasil”, responsible for printing Brazilian stamps. These postal offices used making coupons machines to do these perforations, probably to make easier their work. In the same year were issued D. Pedro II series, also known Black Beard, printed by American Bank Note, with an innovation: they were perforated.

Em um artigo escrito originalmente em 1928 e publicado no site do Clube Filatélico do Brasil, Rouge-Brique faz um estudo interessante sobre o percentual de selos verdadeiros de cada tipo: o vertical 60 réis seria de aproximadamente 25% (um em cada quatro selos seria verdadeiro); os verticais 30 e 90 réis, cerca de 5%, e os de 10 e 180 réis, entre 10 e 20%; no colorido 10 réis, não passaria de 10%. Já os verticais 20, 300 e 600 réis, e os coloridos 30, 280  e 430 réis, chegaria a 40%. Lembro que este estudo foi feito a mais de 80 anos e estes números, atualmente, sejam bem diferentes, mas mesmo assim é interessante às conclusões que o autor chegava. Segundo Rouge-Brique, o alto percentual (se comparado com os outros selos) de peças autênticas do 60 réis se justificaria pelo largo uso deste selo no período. Já para os selos verticais de 20, 300, 600 réis e os coloridos de 30, 280  e 430 réis, por serem selos escassos e de maior valor de catálogo, a falsificação de picotes não seria vantajosa.

An article written in 1928 and published in Clube Filatélico do Brasil website, Rouge-Brique make an essay about percentage of real stamps: 60 reis vertical may  be 25%; 30 and 90 reis vertical, about 5%; 10 and 180 reis, between 10 and 20 %; colored 10 reis, less than 10%. In 20, 300 and 600 reis vertical, and 30, 280 and 430 reis colored could reach about 40%. I would like to note that these study was made more than 80 years ago, and these percentage may be different nowadays, but it´s interesting to know what conclusion the author achieved. According to Rouge-Brique, high percentage of authentic perforations on 60 reis stamps is due the fact of large use of this stamp in the period. For 20, 300 e 600 reis vertical and 30, 260 and 430 reis colored, high catalogue value and short use of these stamps would not be profitable to forge perforations.

Clerot (Catálogo Histórico dos Sellos Postaes do Brasil, 1925), Landau (Catálogo de Selos do Brasil Ariró, 1949), Michel (2005) e Yvert (2005) citam e cotam o selo vertical 10 réis picotado,  mas segundo Studart (Catálogo Histórico dos Selos do Império do Brasil) o selo vertical de 10 réis não deve existir com denteação, visto que o mesmo foi substituído em 1854 pelo colorido de 10 réis. O Scott (2009) questiona a existência deste selo, mas sem apresentar cotação. Levo a crer que os catálogos internacionais ainda tem informações antigas referente a esta emissão e não há uma revisão muito criteriosa.

Clerot (Catalogo Historico dos Sellos Postaes do Brasil, 1925), Landau (Catalogo de Selos do Brasil Ariro, 1949), Michel (2005) and Yvert (2005) catalogue and quote 10 reis vertical perforated, but according Studart (Catalogo Histórico dos Selos do Imperio do Brasil), 10 reis vertical perforated should not exist, as it was replaced in 1854 by 10 reis colored. Scott (2009) question it´s veracity, but without value. I believe that international catalogues still have old information about this issue and doesn´t have careful review.

Segue uma tabela comparativa de cotações destes selos em relação ao Olho de Boi 60 réis novo por diversos catálogos, de diferentes épocas:

Below a percentage value comparative chart of perforated stamps related to unused 60 reis Bull Eye (first Brazilian stamp), by several catalogues, from different periods:

É interessante notar que no Catálogo RHM, entre 1980 e 2013, a cotação do vertical 20 réis aumentou quase 300% para o selo novo, enquanto que para o selo usado o aumento foi de aproximadamente 60%. Nos demais selos, ou a cotação se manteve estável ou seguiu na proporção do 20 réis usado. Em comparação com o Catálogo Antunes de 1987, a cotação deste geralmente é menor quando comparado com o Catálogo RHM. A exceção são os selos vertical 600 réis e colorido 430 réis. Já entre os catálogos internacionais, Michel e Scott têm cotações muito semelhantes, ao contrário do Yvert, que tem cotações proporcionalmente menores. Ou os catálogos Michel e Scott valorizaram mais os denteados ou o Yvert valoriza mais os Olhos de Boi.

It’s interesting to note that in RHM Catalogue, between 1980 and 2013, 20 reis vertical catalogue value increased almost 300% for unused stamp, and about 60% for used one. For all other stamps, catalogue value were stable or, the most, similar to 20 reis used. Compared to 1987 Antunes Catalogue, values are lower than RHM Catalogue, except for 600 reis and 430 reis. In international catalogues, Michel and Scott have similar catalogue values. Yvert, by other side, has catalogue value lower, when compared with 60 reis bull eye value. 

A grande questão em relação a estes selos é como diferenciar os selos verdadeiros dos falsos. Marcelo Studart, na sua obra Falsificações e Fraudações na Filatelia Brasileira, enumera quatro falsificações do selo (Spiro e Mercier). Em relação à picotagem, podemos citar as seguintes características que diferenciam os picotes falsos dos verdadeiros:

The great question about these stamps is how to detect fake perforations from the real ones. Marcelo Studart, in his book “Falsificações e Fraudações na Filatelia Brasileira”, lists four forgeries of these stamps (from Spiro and Mercier). Concerning perforation, we can list some attributes that can distinguish real perforations from forgeries:

- qualquer denteação diferente de 13 ½ (ou 13 ¼ segundo outros autores) devem ser considerados fraudulentos;
- os fraudulentos apresentam as extremidades dos dentes cortadas ou ponteadas, ao contrário dos autênticos que são esgarçadas ou esfiapadas;
- o diâmetro e a distância entre furos, nos fraudulentos, são irregulares;
- os fraudulentos não apresentam restos de papeis nos orifícios dos picotes, como nos autênticos.
- exemplares usados dever ter carimbos mudos ou do tipo francês, utizados em 1866 ou depois. Como estes selos foram utilizados apenas no Rio de Janeiro e Salvador, carimbos de outras cidades ou localidades devem ser analisados com critério.


- any perforation different from 13 ½ (or 13 ¼ according to some sources), should be considered forgeries;
- forgeries have teeth ends cut. Real ones have threadbare teeth ends;
- forgeries have perforation with irregular holes;
- forgeries don´t have rest of paper in holes of perforation;
- used stamps have to have mute cancellation or “French” type, used from 1866 onwards. As these stamps were used only in Rio de Janeiro and Salvador, cancellations from other cities should be analyzed with carefully.


Encontrei informações conflitantes em relação a real picotagem destes selos. Não há uma unanimidade nesta informação, e os diversos catálogos aos quais tenho acesso apresentam as seguintes informações:

I found different information about real perforation of this series. Several catalogues I own have following data:

Antunes: não informa / no data
Ariró: 13 ½
Leon Clerot: 13 ½
Marcelo Studart: 13 ½
Michel: 13 ¼
RHM: 13 ¼
Scott: 13 ½
Yvert: 13 ½
Segue imagem do único selo que possuo desta série, sem certificado de autenticidade. No entanto, todos os indícios apontam para sua veracidade.

Below, image of the only one stamp I have from this series, without certificate of authenticity. However, it matches with all attributes that could confirm it´s authenticitiy.

Abaixo, algumas imagens retiradas da internet com selos com indícios de fraude. Não posso afirmar que todos sejam falsos (em alguns casos, há indícios, no mesmo selos, da sua veracidade ou falsidade, o que dificulta chegar a uma conclusão).

Below, some images copied from internet with stamps that could have fake perforation.



Referências bibliográficas:
ANTUNES, José Manoel. Catálogo Antunes 87/8. 1987
CLEROT, Leon F. Catálogo Histórico dos Sellos Postaes do Brasil. 1925
LANDAU, Léo. Catálogo de Selos do Brasil Ariró. 1949
MEYER, Peter. Catálogo de Selos do Brasil. 2013
MEYER, Rolf Harald. Catálogo de Selos Brasil. 1980
MEYER, Rolf Harald. Catálogo de Selos do Brasil. Volume 1. 1993
MICHEL ÜBERSEE-KATALOG. Südamerika 2005. 2005
SCOTT PUBLISHING Co. Standard Postage Stamp Catalogue 2009. 2008
STUDART, Marcelo. Catálogo Histórico dos Selos do Império do Brasil. 1991
STUDART, Marcelo. Falsificações e Fraudações na Filatelia Brasileira. 1995
YVERT & TELLIER. Classics du Munde. 2005

7 comentários:

  1. Rafael, parabéns não só por esse estudo, de fontes sérias e bem feito, mas também pelo site, album e disponibilização de tudo isso.
    Em relação aos horizontais denteados, há consenso que só são verdadeiros os de medida 13,25 (13 1/4), pois a máquina que fez a picotagem foi posteriormente vendida e tinha essa medida. Ocorre que alguns dos exemplares podem ter sido perfurados posteriormente, o que jamais saberemos.
    Existem pouquissimos exemplares circulares sobrecarta, e menos ainda nos valores diferentes do 60 réis, levando a crer que a proporção em relação aos não denteados é infima. E dos existentes, pelo que acompanho dos leilões dos últimos 25 anos, a enorme maioria que não seja do 60 é falsa. Um esforço recente trouxe alguns exemplares aparentemente bons no mercado, e estão em leilões dos grandes comerciantes atuais (Neumann, RHM e Marco Aurélio). Sugiro que amplie seus conhecimentos de império e inclua no álbum os diferentes tipos de Inclinados, pois são os que apresentaram mais novidades, e atualizações dos últimos 20 anos, levando alguns a altas valorizações inclusive. Use o livro do Taveira (2000), complementado por Forte (2009) a artigos posteriores da Fefibra. Terá gratas surpresas, por certo.
    Abraços.

    Denis Forte

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    1. Denis, obrigado. Sobre a denteação, os catálogos mais antigos informam a medida de 13,5, e os mais recentes (incluindo os internacionais), 13,25. Apenas o Marcelo Studart, pelo visto, informa a medida de 13,5. Isso mostra como as informações mudam de tempos em tempos, mas é, para mim, a emissão mais interessante da filatelia brasileira, principalmente pela enorme divergência sobre ela, hehehe.
      Sobre os inclinados, tenho o livro do Taveira (ótimo por sinal), e fico fascinado por essa emissão, pela sua beleza e suavidade de desenho (ao contrário dos verticais, que são mais grosseiros). Uma pena é o alto valor dos selos desta emissão, realmente proibitivo para mim por enquanto, tanto que o único selo que possuo é o de 10rs, e não é grande coisa. Os valores alcançados por esta emissão em leilões é espetacular, e os três valores mais altos, então, são verdadeiras preciosidades. Os Olhos de Boi são os que tem a fama, mas os inclinados, do meu ponto de vista, são as meninas dos olhos de qualquer coleção de selos do Brasil. Ainda chego lá, só ter paciência.
      Já pensei em fazer folhas somente com as variedades dos selos, quem sabe acho um tempinho para me dedicar.
      A propósito, onde consigo mais informações sobre este estudo?
      Abraços

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  2. Caro amigo Rafael,

    primeiramente felicitações pelo blog que é bem interetivo e interessante. Para participar e opinar um pouquinho, pelo que pude estudar estes selos ai existiram nas duas denteações dependendo do lugar onde eles foram perfurados ou seja no Rio de Janeiro ou em Salvador. Se tiver a ocasiao de estudar eles e as denteaçoes faz sempre atençao nos carimbos deles e tente identificar estes carimbos

    Grandes abraços

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  3. Parabems amigo Rafael,

    fico muito feliz em saber que achamos pessoas de bom coração e empenhado e ajudar a filatelia já tao esquecida pela sociedade .belo trabalho .vou adotar esse novo método e tirar meus selos de classificadores .dará um ar mas clen .brigaduuuuuuu . vc fara um arquivo só pra blocos ? aguardo ansioso sua resposta kkkkk

    att. OSÉAS FLORENTINO

    oseas_florentino@hotmail.com

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    1. Oseas, desculpe pela demora em retornar. Por algum motivo o blogger não me avisa mais de novos comentários.
      Sobre um arquivo só para blocos, infelizmente não tenho, pois não coleciono somente eles. Talvez, algum dia, quanto tiver tempo sobrando, tente montar, mas não prometo nem posso dar prazo para isso. Por enquanto, infelizmente para ti, tenho outras prioridades, mas não descarto. vou deixar anotado nas minhas "coisas a fazer para blog", hehehe
      Abraços

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  4. Muito obrigado pela informação aqui.
    Também estamos lutando para obter mais entendimento sobre esse assunto muito interessante e, em particular, sobre como distinguir cópias genuínas.
    Se alguém avançou mais sobre esse assunto, ficaríamos muito gratos se eles pudessem entrar em contato conosco.
    Cumprimentos,
    Janet & Nick Nelson
    njn@micross.co.uk

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    1. Janet e Nick, obrigado. Infelizmente não vi mais nada de "novo" sobre este assunto.

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